As coisas mudaram e hoje, ao invés de solicitar uma xícara
de açúcar ao vizinho você tenta descobrir a senha do wifi usando a data de
nascimento da família toda que você descobriu através do facebook. E eu não
deveria achar isso ruim! Não sou muito fã de conversar com pessoas sem um
motivo especial, assim, só pra comentar sobre o tempo. Me formei conversando
com os números e, graças a Deus, eu trabalho conversando com o Excel e sistemas
o dia inteiro. A hora que toca o telefone da minha mesa eu tenho uma mini
parada cardíaca pensando no tempo que vai levar aquele telefonema e quantas
palavras eu vou ter que falar. Mas começo a achar que todas essas facilidades
estão transformando todo mundo em gente assim, como eu!
Antes, quando você queria chegar em algum lugar que nunca tinha ido, consultava o guia, imprimia um mapa, mas sempre acabava pedindo informação pra alguém em um farol fechado qualquer. Hoje temos o Waze e podemos ficar com os vidros fechados da hora que saímos de casa até a chegada ao destino que ele indicará que está à esquerda.
E pra tirar foto em um país diferente você tinha que se
virar na mímica para pedir a ajuda de um local. Hoje existem suportes que permitem
tirar foto de umas 49 pessoas juntas e ainda olhar como a foto vai sair, se está
aparecendo todo mundo ou não e não esperar pra descobrir que na foto mais
importante do passeio a tia Clara fechou os olhos enquanto o tio Luis ficava
sem parte da cabeça.
Se você quer saber sobre a rota de um ônibus não precisa
mais perguntar à ninguém do ponto, basta consultar em um aplicativo específico.
E nem solicitar a ajuda do cobrador com o ponto em que precisa descer pois o
mesmo programinha te avisa.
E também não é mais necessário pedir a opinião da vendedora
sobre uma roupa que você está em dúvida se leva ou não! Manda a foto pra um
grupo do Whats que tem umas 15 amigas e elas te ajudam a decidir.
Uma vez eu estava na porta da faculdade e passou um carro
tocando uma música que eu queria saber há tempos qual era e quem cantava. Não
tive dúvida e gritei perguntando. “Eu sou seu” foi a resposta de um dos
mocinhos levemente embriagado me respondendo que era a música I’m Yours de
Jason Mraz. Hoje não seria necessário esse mico porque existem aplicativos que
identificam a música, o artista e várias outras informações através do som
ambiente.
Até pra conhecer gente você não precisa sair do sofá de casa.
O mundo está aí evoluindo e parece que está nos fazendo
retroceder a homens das cavernas que só se comunicam através de imagens e
grunhidos. Não acho que tecnologia seja algo ruim por si só, nós que a tornamos
ruim quando usamos para o nosso bem/isolamento. Eu sou uma das que está ferrando com tudo!
Durmo com o meu celular embaixo do travesseiro, almoço com ele na mesa, obedeço
mais o Waze que os meus pais, comento programas pelo facebook mesmo com gente
na sala, me policio pra conseguir ver um filme todo sem dar pause para trocar
mensagens e o pior de tudo é que isso está me fazendo perder o que tenho de
melhor: Minha ranzinzice! Agora é extremamente comum não conversar com ninguém!
Ainda bem que descobri que me mantenho fora da média: confiro o celular a cada
2 minutos (e ninguém precisa tocar no assunto que eu não tenho de 18 a 24
anos).