terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Vou chegar às 19:34 e vou desligar porque tem um policial a 300 mts.

Já é de conhecimento de todos que o celular nos aproxima de quem está longe e nos distancia de quem está perto – com exceção dos seus colegas de sala com quem você tem um grupo no Whats e fica comentando sobre toda a aula, menos sobre a matéria.
Já existe um trilhão de tirinhas sobre mesas de jantar com famílias com a cara grudada no aparelhinho e vídeos fofos de animais que pedem atenção enquanto os donos estão hipnotizados por uma tela. 40% dos divórcios na Itália já utilizam o Whatsapp como prova no processo. Pessoas entre 18 e 24 anos checam seus aparelhos a cada 10 minutos, em média. 80% das pessoas dormem com o celular ao lado da cama. Aquela cena de filme ou novela em que a pessoa acorda passando a mão no lado da cama vazio em que deveria estar seu companheiro que levantou mais cedo e está enrolado em um lençol observando o quebrar das ondas pela janela do quarto de hotel enquanto toma uma xícara de café e pensa sobre o futuro incerto do casal foi substituída por pessoas que despertam no meio da madrugada, caçam o celular embaixo do travesseiro e levantam em um sobressalto quando veem que o cônjuge está online no Whats App àquela hora.

As coisas mudaram e hoje, ao invés de solicitar uma xícara de açúcar ao vizinho você tenta descobrir a senha do wifi usando a data de nascimento da família toda que você descobriu através do facebook. E eu não deveria achar isso ruim! Não sou muito fã de conversar com pessoas sem um motivo especial, assim, só pra comentar sobre o tempo. Me formei conversando com os números e, graças a Deus, eu trabalho conversando com o Excel e sistemas o dia inteiro. A hora que toca o telefone da minha mesa eu tenho uma mini parada cardíaca pensando no tempo que vai levar aquele telefonema e quantas palavras eu vou ter que falar. Mas começo a achar que todas essas facilidades estão transformando todo mundo em gente assim, como eu!

Antes, quando você queria chegar em algum lugar que nunca tinha ido, consultava o guia, imprimia um mapa, mas sempre acabava pedindo informação pra alguém em um farol fechado qualquer. Hoje temos o Waze e podemos ficar com os vidros fechados da hora que saímos de casa até a chegada ao destino que ele indicará que está à esquerda.
E pra tirar foto em um país diferente você tinha que se virar na mímica para pedir a ajuda de um local. Hoje existem suportes que permitem tirar foto de umas 49 pessoas juntas e ainda olhar como a foto vai sair, se está aparecendo todo mundo ou não e não esperar pra descobrir que na foto mais importante do passeio a tia Clara fechou os olhos enquanto o tio Luis ficava sem parte da cabeça.
Se você quer saber sobre a rota de um ônibus não precisa mais perguntar à ninguém do ponto, basta consultar em um aplicativo específico. E nem solicitar a ajuda do cobrador com o ponto em que precisa descer pois o mesmo programinha te avisa.
E também não é mais necessário pedir a opinião da vendedora sobre uma roupa que você está em dúvida se leva ou não! Manda a foto pra um grupo do Whats que tem umas 15 amigas e elas te ajudam a decidir.
Uma vez eu estava na porta da faculdade e passou um carro tocando uma música que eu queria saber há tempos qual era e quem cantava. Não tive dúvida e gritei perguntando. “Eu sou seu” foi a resposta de um dos mocinhos levemente embriagado me respondendo que era a música I’m Yours de Jason Mraz. Hoje não seria necessário esse mico porque existem aplicativos que identificam a música, o artista e várias outras informações através do som ambiente.
Até pra conhecer gente você não precisa sair do sofá de casa.


O mundo está aí evoluindo e parece que está nos fazendo retroceder a homens das cavernas que só se comunicam através de imagens e grunhidos. Não acho que tecnologia seja algo ruim por si só, nós que a tornamos ruim quando usamos para o nosso bem/isolamento.  Eu sou uma das que está ferrando com tudo! Durmo com o meu celular embaixo do travesseiro, almoço com ele na mesa, obedeço mais o Waze que os meus pais, comento programas pelo facebook mesmo com gente na sala, me policio pra conseguir ver um filme todo sem dar pause para trocar mensagens e o pior de tudo é que isso está me fazendo perder o que tenho de melhor: Minha ranzinzice! Agora é extremamente comum não conversar com ninguém! Ainda bem que descobri que me mantenho fora da média: confiro o celular a cada 2 minutos (e ninguém precisa tocar no assunto que eu não tenho de 18 a 24 anos).