quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Chegamos bem até aqui?

Um dia dessa semana eu cheguei em casa e tinha uma criança brincando na rua, um loirinho andando de bicicleta sozinho, já deve ter uns 3 anos. Sorri com a cabeça pendendo para a esquerda enquanto o via pedalar com pressa, olhando um pouco pra frente, um pouco para o lado, admirando e desconfiando da plateia. Ele largou a bicicleta no meio da rua e voltou andando, de um jeito gozado que me fez lembrar que eu já estive no lugar dele.

Com pouco mais de idade, eu brincava junto com a sua mãe naquela mesma rua. Não da mesma coisa porque nunca soube muito bem andar de bicicleta. Mas brinquei e briguei durante muitos anos naquela travessa sem saída, tranquila naquela época, sem o prédio que hoje ocupa o terreno que “na minha época” abrigava dois ou três galpões abandonados que invadíamos para empinar pipa e roubar amora. Também não tinha o condomínio que hoje fica no lugar da casa da minha avó e da vizinha, uma amiga, com quem conversava através de um cano na parede quando ficava de castigo.
A rua já não é mais a mesma, parece que ficou apressada, parece que perdeu a paciência com que aceitava as crianças entrando na casa de vizinhos idosos e bravos pra se camuflar na noite durante o esconde-esconde. Parece que ela envelheceu junto com a gente e hoje sente dores e desânimo quando uma criança pede pra brincar com ela.

Lembrei do primeiro selinho em uma brincadeira de verdade-ou-desafio, de quando soltei um pum na frente de todo mundo, de quando cai pra trás e estava de saia quando brincávamos de “Pézinho” (PRIMEIRO – ZERINHO!), lembrei de cantar música brega e conhecer Legião Urbana, de ver vizinhos mudando e voltando ou só trocando de casa, de fazer aniversário de bonecas, de gastar um filme inteiro de 36 poses no aniversário da boneca, de quando a menina mais velha nos contou que tinha menstruado e por isso não ia tomar sorvete, lembrei de quando não lavei minhas calcinhas e minha mãe as colocou em um balde lá no portão porque eu não entrava de jeito nenhum, lembrei que queria ser estilista e estudar em Paris, lembrei de quando caí de patins e cortei a perna e parecia que estava tendo uma edição do Lollapalooza na minha casa de tanta gente que juntou lá, da primeira vez que lavei um chão de cozinha quando fui chamar uma amiga pra brincar depois do almoço e fui ajudar pra ir logo, lembrei de quando um menino me disse  que em mais 3 primaveras ele me procuraria, não sabia o que isso significava, assim como não sabia o que diziam as músicas dos Mamonas que os meninos dublavam quando fazíamos um “show” em casa e uma vez foi tão engraçado que um deles fez xixi nas calças! Lembrei que eu tinha planos e sonhos pra uma vida inteira, mas não lembro quais eram.

Passaram muito mais que 3 primaveras, o menino nunca me procurou (ufa) e parece que toda essa história é de um outro alguém, mas não minha! A gente cresce e parece que só lembra de ser adulto. Em um mês faz 10 anos que tirei minha carteira de motorista, em dois anos, faço 3 décadas de vida e não me dá medo, nem arrependimento! Aproveitei bem cada fase da minha vida, brinquei de Barbie até uns 14 anos, não queria que essa fase passasse. Mas passou e parece que ficou muito distante! E hoje sou impaciente como a rua que moro, na segunda-feira já espero pela sexta e na sexta já lamento porque em 3 dias será segunda novamente.

Nessa onda de eventos do Facebook (a qual eu não quero que passe jamais), participei de um que dizia ser um Manifesto Para Sair Com a Roupa Amassada Pois A Vida Passa E A Gente Nem Vê! Depois de rir, de rir bastante, pensei que é verdade! Ela passa! E se a gente vive esperando pelo próximo dia, ele não chega nunca!


Uma vez li uma frase bacana que era “A criança que você era teria orgulho de você hoje?”. A minha, primeiro me zuaria por ter ficado gorda e acho que pediria pra ir com mais calma, na comida e na vida! E perguntaria por que agora eu tenho TV no quarto, se eu ainda sei fazer embaixada, por que antes eu ia até o metrô Tiradentes a pé e agora vou de carro até a rua de cima e onde está todo mundo que cresceu com ela. Só sei responder às três primeiras com precisão.