“tá, tá, tá bom! Tá bom!” é assim que, normalmente, a gente
tenta encerrar uma conversa que implica em verdades sendo lançadas em nossa
face sem dó nem piedade – isso é o que a gente acha, porque quase sempre o
interlocutor dessa verdade está sendo bem simpático, fofo e educado! Também
podemos usar outra manobra radical que chama “vamos falar de coisas sem sentido”
e comentar sobre o ator do filme que está passando a propaganda na televisão, reclamar
da política da Nova Guiné, lembrar uma história engraçada que aconteceu com
você em 1.992, comentar sobre quando viu uma porca comendo a própria placenta
depois de dar a luz, etc.
Admitir erros é uma coisa muito difícil! A gente tem todas
as desculpas na ponta da língua para se justificar, sempre estamos na defensiva
e dificilmente ouvimos exatamente tudo o que o outro está dizendo! Quando a
minha mãe começa com o sermão “você não sabe usar o seu dinheiro” eu só ouço as
duas primeiras frases, sei do que se trata, fecho a cara e começo a sessão de
respostas prontas: Se o dia foi ruim, reclamo que está ficando pior, se o dia
foi bom falo pra ela não estragar, se está muito cedo é porque está muito cedo,
se está muito tarde, é porque está muito tarde... e tudo isso porque eu sei que
ela tem razão, mas não quero ouvir isso de ninguém!
Eu tenho o maravilhoso costume de ouvir a conversa das outras
pessoas no metrô e já ouvi muitos relatos de gente dividindo com seus colegas
que tudo no serviço sobra pra ele, que ninguém trabalha senão ele, que todo
mundo é folgado, que na faculdade ninguém faz sua parte em algum trabalho em
grupo, que em casa só ele que coloca ordem, etc! Fico pensando: ou eu só trombo
com as pessoas mais competentes do mundo ou alguma coisa está errada! Nunca
ouvi ninguém falando “nossa, sou muito folgado no serviço! E sempre tem um
idiota que faz tudo!”. Era para o mundo estar cheio de pessoas perfeitas, é uma pena que o único defeito delas é que são cegas! Acho que as pessoas tem dificuldade para enxergar e assim como não identificamos nossos próprios
defeitos, também procuramos culpar alguém por eles!
Estamos tão acostumados a ouvir mentiras, bajulações,
pessoas que querem fazer média, que quando ouvimos alguém falando a verdade,
achamos que é reencarnação do Osama Bin Laden querendo explodir uma bomba nas
nossas gengivas! Amigos, amigos de verdade (não aqueles que só andamos junto porque
a mãe da pessoa nos paga uma bolsa-brotheragem ou porque a pessoa coou café com a
nossa calcinha e nos enfeitiçou e por isso não conseguimos desfazer a amizade),
só falam as coisas pro nosso bem, são eles que enxergam se a roupa está ficando
bacana na gente ou não, eles nos veem muito mais tempo que nós mesmos e sabem que
nossa postura não tá legal e falam pra que procuremos corrigir – a não ser que
quero fazer cosplay do Corcunda de NotreDame. Quando sua mãe pergunta se você
engordou, não adianta gritar que emagreceu 400 gramas comparando ao peso que
tinha quando estava grávida! Quando um brother falar que você tem bafo, procure
Listerine e não um amigo que tenha desvio de septo! Quando seu pai fala que essa
roupa te deixa parecendo a Geisy Arruda, troque a roupa ao invés de brincar de
Suzane Von Richthofen! Quando seu irmão fala que você não sabe dirigir, tente
contar quantas vezes você sobe na guia tentando estacionar e melhora isso ao
invés de estacionar em cima dele!
Vamos nos observar com outros olhos! Vamos prestar atenção
no que os outros falam, desde que não seja o Pedro Bial... ele vocês podem
ignorar!
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